a memória, a história, o esquecimento*


[Habitação Multifamiliar, Ourém, 2003-2005]


A ruína, que é a realidade arquitectónica exposta aos elementos, ao tempo, a pedra que se expõe na sua decrepitude, a ruína da presença e do presente. Ícones e fantasmas, imaginação e imagens, trabalho do futuro na devastação do presente, as casas e as cidades se transfiguram na incerteza. Possivelmente mais certa que a ideia de progresso, que já abandonámos, resta a ideia da ausência que lentamente se aproxima do fim da esperança.
E talvez a ruína seja o instrumento crítico mais preciso: a aparição do que, inelutavelmente, não se poderá esquecer. Como se as coisas se desligassem de si e do presente em favor do destino. Um espectáculo daquilo que já não é mais.

Caberá ao arquitecto reconhecer que a construção em que se empenha, as ligações que propõe, a realidade que inventa – que é ela própria uma outra realidade imprevista ao tempo da construção – não o é sem o território que lhe dá um nome. E que o seu trabalho não é mais que um sopro destinado ao esquecimento.



*Paul Ricoeur