pour épater le bourgeois

Naturalmente que a esta questão, O que farão os arquitectos quando já não puderem construir?, estarão habilitados a responder os arquitectos residentes do hemisfério norte e ocidental. Exactamente os ‘territórios’ mais densamente povoados pelas ‘práticas’ e ‘visões’ da arquitectura quando, como afirma o Tiago, se tem uma visão (quase) escatológica da arquitectura na história da salvação do mundo - “A arquitectura tenta projectar o futuro, numa altura em que cada vez mais nos tentam cortar qualquer perspectiva de o fazer.”.
Talvez a crise nos faça recuar na construção, e em bom rigor, estará quase tudo construído no hemisfério norte e ocidental – nesse sentido, seria o fim da história, no hemisfério norte e ocidental, se a arquitectura fosse uma forma de ‘projectar’ o futuro. Mas não, por enquanto a crise, pelo menos, acabará com o excesso de desenho. E, esperemos, com as ‘visões’ e ‘novas práticas’ e ‘reinvenções’.
Porque a arquitectura é o que é, com mais ou menos razão, desde a antiguidade, que o tão humano horror ao vazio tenta atribuir ao que não o é (arquitectura), essa qualidade. Necessariamente a arquitectura é construção – o inverso não é necessariamente verdadeiro – seja o facto arquitectónico uma realidade de séculos, meses, efémera, este exige sempre um suporte físico. Construído. Matéria obedecendo às leis da gravidade. E talvez o que dê legitimidade de arquitectura a qualquer um destes factos construídos seja a realidade da habitabilidade, usabilidade, praticabilidade, de cada um deles. Embora seja uma ideia extremamente interessante (Santiago Baptista), a radicalização conceptual da arquitectura, ou do que ela possa ser, parece mais um exercício ocioso pour épater le bourgeois em que todos nos tornámos cinicamente especialistas.












[Interface Rodoviário de Cascais]

Mas a realidade é uma besta e a realidade é que o grosso do legado moderno são as estruturas dificilmente transformáveis: auto-estradas, pontes, "viadutos, a parte de baixo de uma ponte, as áreas entre a linha do comboio e as traseiras de um edifício, telhados, túneis". Ao contrário de todas as outras épocas da nossa civilização, deixamos em herança, as ruínas de uma sociedade que se alimentou do ‘funcionalismo’ e da utilidade prática de um amontoado de coisas que, mais tarde ou mais cedo, serão aniquiladas por outras, estritamente funcionais provavelmente. Por isso, para além de assustador, porque dito debaixo do guarda-chuva de um certo humanismo que alivia a boa-consciênca, «perceber como é que as pessoas funcionam dentro dos espaços» é o reiterar do discurso totalitário modernista.
As pessoas são absurdas. E os arquitectos também.